quando o trem me engole, vejo a cidade nas entranhas
pessoas ardentes e outras com cara de veneziana
chiaroscuro, Trianon-Masp
a história e a arte frente a frente, os operários de Portinari piscam para mim no vagão
*
Consolação, quando leio esse nome, choro
penso nas viúvas, nas mulheres abandonadas, nos filhos sem pai
Consolação, nome de mulher no pós-desespero urbano
bombas imaginárias no peito em que pombas se agitam em sutiãs apertados
Consolação é o nome de quem perdeu tudo
*
Vila Madalena, a filha do fazendeiro caiu na boêmia
apartada para sempre das irmãs Ida e Beatriz, que não fumam nem bebem
agora, Madalena vive nos bares, nos copos,
nos corpos sobre os quais me debruço contando vivos e mortos que escutam blues
keep calm, baby
antes da estação do inferno, Rimbaud trepa comigo
(Célia Musilli/ São Paulo 2013)